domingo, 25 de março de 2012

Gosto de sangue.

   Você estava ali, me fitando com sua face sempre tão inabalável, e dessa vez não estava diferente. Transbordando calma, seus olhos passearam pelo meu rosto, minhas roupas e pararam em minhas mãos, também cobertas de sangue. Eu implorava mentalmente que você não perguntasse nada e mesmo não ouvindo, você não perguntou. Olhando-me sem pronunciar nem uma palavra, você sorriu, um sorriso doce, que afastou pra longe o medo que me sufocava. Olhou no fundo de meus olhos, segurou em minhas mãos e me abraçou, me aconchegando no calor de teus braços. O cheiro de sangue que impregnava o lugar deu lugar ao do seu perfume, mas o gosto de sangue em minha boca continuou, o gosto da dor, o gosto do ato monstruoso que cometi e que nunca mais esqueceria. Mal sabia eu, que um tempo depois, aquele gosto me agradaria. Mas aquele sorriso doce... Ah, aquele sorriso... eu nunca mais vi. Ainda havia o rosto, as roupas e as mãos cobertas de sangue, mas seu rosto inabalável, os olhos calmos, o sorriso doce... Os braços quentes me aconchegando, não estavam mais lá. Os mais variados gostos senti depois daquele dia, mas nenhum foi igual ao seu, o seu gosto, o gosto de seu sangue . O rosto, o gosto que nunca mais encontrei.


     Caroline Casteliano.

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